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sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Pirilampos

"Este é um post de auto-afirmação, não precisa entender."

Alguém que sempre morou em cidade grande, que sempre viveu em capital, nunca saberá dizer ao certo, ou tão pouco compreender o que há de mágico em um pasto cheio de pirilampos. O Pirilampo, para quem não sabe, é um inseto com um órgão bioluminescente na parte inferior dos segmentos abdominais. É, na bunda, em raras exceções na cabeça, mas isso não vem ao caso.
   O Pirilampo emite luz em uma freqüência baixa, em média uma vez a cada dois segundos, o que faz do ato de observá-lo voar durante a noite uma experiência sem precedentes. Quando você consegue visualizá-lo tem certeza da sua imediata localização, mas onde aquela bundinha irá piscar novamente dentro de dois segundos é algo incerto. Daí você fica que nem pateta, olhando para um perímetro imaginário de raio esférico suposto entre a relação “velocidade do piscar em razão da velocidade do vôo”. (Para os leigos em matemática um espaço no ar onde você supõe que o bichinho pode voltar a aparecer.)
   Onde quero ir com isso tudo? Bem, quero fazer uma analogia, uma metáfora, uma pegadinha do malandro, salsifufu pequeno gafanhoto. (Esse outro inseto não faz parte da alusão).
   Comparo aqui os pirilampos com as pessoas que passam por nós. Não estou fazendo nenhuma pegadinha infame sobre bundas que brilham aos nossos olhares. Apesar de alguma realmente brilharem... Enfim! Pessoas são Pirilampos, e hoje eu me dei conta disso. Lembrei-me de algo que um dos meus tios, um dos menos queridos, aquele tio que foi a ovelha negra da sua geração (deu pra entender que a família inteira o odeia né?) me disse quando eu ainda era um pirralho melequento. Estava eu a brincar na roça, durante a noite, vislumbrado com a imensa quantidade de pirilampos que circundavam o curral e enfeitavam o céu muito escuro de uma isolada chácara do interior quando tive a brilhante idéia (saca o trocadilho, brilhante!) de colocar os pirilampos em um vidro vazio de maionese para fazer uma lanterna. Eu sou um gênio, confessem! Executei meu árduo plano: Com investidas de sucesso em hábeis golpes que cortavam o ar com um vidrinho transparente eu peguei muitos deles, e não fiquei satisfeito até ter uma quantidade suficiente de pirilampos dentro do meu vidro para que eu pudesse chamá-lo de lanterna verde! Alguns voaram do vidro antes que eu pudesse fechá-lo, minhas mãozinhas não eram grandes o suficiente para cobrir toda a superfície vazada da tampa. Talvez estes aí já tivessem se dado conta do seu terrível fim e trataram logo de se ausentar daquela reunião homicida bioluminescente. Os pirilampos são assim. Gostam de brilhar, não podem evitar na verdade, mas como qualquer ser vivo tem o instinto de autopreservação aguçado. Alguns pressentem o perigo mais rápido e saem logo de perto de pessoas perigosas como eu. Bem, nem todos tiveram essa sorte. Não que eu fosse um assassino da natureza, eu só queria todo aquele brilho incerto, inconstante e ludibriante para mim, perto de mim. Então cometi o ato cruel, cerrei o vidro de maionese, e não me dei ao trabalho de fazer um furinho sequer na tampa. Cometi esse ato várias vezes depois daquele dia (existe uma metáfora aqui), mas se não aprendi a deixá-los voar em paz pelo menos estou praticando o lance de furar a tampa.
   Aí começou a minha diversão: Entrar com a minha lanterna verde lusca fusca na penumbra da casa de ferramentas! Entrar no escuro da grota! Levar os pirilampos aprisionados para iluminar a bica em uma eventual excursão noturna. Tudo muito divertido! Porque o brilho dos pirilampos tira seu medo, e te ajuda a ir a lugares aonde você não iria sozinho no escuro.
   Enquanto eu gozava do prazer dos pirilampos, meu tio ovelha negra observava, e ria. Acontece que aos poucos a lanterna começou a ficar mais fraca, os pirilampos começaram a ficar tontos e cair no fundo do vidrinho, e em coisa de segundos nenhum deles piscava mais. Eu batia no vidro e sacudia, e eles ficavam imóveis, quietos... Eu estava ensaiando um choro, remoído pela culpa e pelo remorso de ter matado a formiguinha, digo, o pirilampozinho (Que dó! Que dó! Que dó!) quando meu tio riu e me pediu que não ligasse para aquilo, que eles não estavam mortos de verdade. Só que tinham se cansado da minha cara feia pregando o nariz no vidro e decidiram que não iriam mais ficar piscando para mim.
   Sabe, pensando bem eu preferia que estivessem mortos. Mas segui o conselho do meu tio, joguei os insetos cadavéricos ali no chão, e antes de ir para dentro de casa dormir fiquei observando um pouco mais os outros pirilampos que ainda estavam piscando, perto do curral e longe no pasto até perder de vista. Quando acordei no outro dia fui correndo para a entrada do curral procurar algum vestígio de vaga-lume morto no chão. Nada havia ali, os passarinhos, que sem dúvida acordaram bem mais cedo do que eu, já tinham tratado de fazer seu desjejum com aqueles suculentos pirilampos em óbito. Mas naquela época eu não pensei que os vaga-lumes tinham morrido sufocados e virado comida de bicudo. Só fui pensar nisso nesses dias, quando me dei conta de que meu tio estava certo, e que os pirilampos não gostam de ficar envoltos na sua cúpula mágica de luminosidade. Eles sabem muito bem que o brilho deles te faz bem, mas podem voar para muito longe ao detectar a ameaça do confinamento do seu ego ou simplesmente morrerem sufocados com o seu egoísmo.
   Fica a dica, ame seus pirilampos, admire seu brilho, fique fascinado e ludibriado com a incerteza do seu próximo ponto luminoso, mas deixe-os livres. Eles não querem, e nem devem brilhar só para você. E convenhamos, se você fosse um pirilampo também iria querer balançar esse rabinho luminoso em um número bem maior de vidros. Não espere 12 anos como eu, não perca amigos, como eu. Acorde agora e vá abrir a tampa do seu vidro de maionese. Devem ter pelo menos uns três vaga-lumes lá dentro cansados da sua cara feia pregada no vidro e implorando por um pouco de ar.

7 comentários:

chigab disse...

inspirador. me inspirou a balançar meu rabinho luminoso por aí

Anônimo disse...

Que lindo, serio, sua metafora foi muito linda! A gente tem mesmo essa mania horrivel de aprisionar as pessoas em vidrinhos.

Paulinha Pinheiro disse...

Muito bom mesmo, amei a metáfora!

Agora deixa eu ir ali correndo achar uma faca pra fazer uns furinhos.

André disse...

Caramba. Show de Bola! Curti d+!

Excelente Texto!

Marcos disse...

Brigado gente, principalmente mari, por me apontar os erros. :*
Tô me curando do vício de "empotar" todo mundo... começar com os furinhos é uma boa idéia Paulinha!
RSRSR

Anônimo disse...

2 votos.Concordo com suas palavras.
Assista a um filme chamado O Tumulo dos Vaga-lumes.Eh um anime que conta a historia de duas crianças na Segunda Guerra Mundial.
Beijos,querido.

Marcos disse...

Boa Lobinho!
Eu vi esse link lá no intercinegay há um tempão e não assisti porque a internet estava dando pau, e eu não consegui baixar!
Que bom que me lembrou! Vou baixar HJ!
VLW!

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